quarta-feira, 21 de setembro de 2011

PSIU!




Não podemos expressar nossas opiniões sobre sexo, não podemos sentir amor, não podemos usar ou “ousar” falar sobre drogas e não podemos experimentar outros aromas que não aqueles que nos façam degustar o sabor fétido desta civilização atrasada de um século - passado. Não podemos. E não podemos por quê?
Animais se reproduzem com a intensidade pulsante de seus instintos, mas a Miss Universo quer ser um pinguim: eles passam a vida fiéis ao “parceiro”. Um garoto de doze anos, que passou uma vida deplorável entre pessoas deploráveis do mesmo modo, é detido. Mas aqueles que tiveram o berço dourado – jóia rara neste planeta – nos calam com um salário mínimo e alguns canais televisivos.
Não podemos falar, já que as bocas precisam apenas de alimentos remuneráveis e felicidade travestida de ignorância. Não podemos viver, já que o sonho da casa própria é garantia de morrer em um hospital particular.
Não podemos? Não, não podemos. Não queremos. Somos acomodados e disfarçadamente infelizes.
Seria a hora de partir para outras galáxias. Não em busca de semelhantes (ah!, ego humano!), mas em busca de algo novo, transcendental. Mas não podemos, temos medo de discos voadores.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

ENTRE AMOR E VENTO




Abri a janela, fazia frio, dois ou doze pássaros cantavam e algumas folhas acenavam. Senti a brisa tocar a parede das maçãs do rosto da porta - nada - apenas alguns pingos nos olhos das telhas. A cortina dançava feliz, a cortina, empoeirada. Aroma de Julhos, Robertos, Andrés. Claves de sol ardendo nos lençóis quadrados, brilho fosco - focos de luz em tecido antigo e sem pele. Alguns peixes cantando fora do aquário, maremoto de conchas sem eco, toalhas ao chão. Um marinheiro na linha do último vagão. Quanto vento fazia naquele dia luminoso! “Acabou”, disseram-me.

Começou.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

PASSAGEM EM MÃOS




Ah!, Vida, seja um pouco mais difícil. Tire tudo de nós e nos transforme em cubos de gelo. Faça um carnaval com nossas almas e pulmões, tranque as portas dos bancos, apodreça as maçãs de ontem e de hoje, jogue fora as cordas do violão e deixe o piano tão desafinado quanto as bocas de hoje. Foda tudo! Rasgue a carteira de habilitação do ar e queime todo o ocidente. Crucifique os amores, passe cordas nas genitálias, lobotomize os pensamentos, faça das cores um extenso aborrecimento, cimente as lascas de excitação, os templos, as árvores, os índios e os indigentes. Foda tudo ao cubo! Foda tudo ao quadrado: COMO toda esta encubação. Eu te engulo, Vida, de uma maneira tão perversa e romântica quanto aquela que te escreve. O medo de existir já não mora mais nesta caverna, não escuta gritos de inconfidência e tampouco adoece nesta normalidade digna de pena (de morte). Tudo. Tudo. Tudo pouco perto de todo o resto - resto de um todo que agora é tudo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ELA




Contudo e por tudo, tenho uma intensa felicidade incrustada em minha essência e absoluta energia que, concluo, adquiri no nascimento. Já não entro mais em conflitos alheios e são poucas as vezes que me chateio com atitudes que eu não teria. Não espero dos outros, não espero os outros e, por fim, não espero. Estou aprendendo a amar de um jeito totalmente doentio e paradoxal - sofro como Amélia e sonho como Alice. Já não me importa o que dizem, o que acham, o que falam: já não me importa quase nada. Preciso de dinheiro, mas não mais do que de ar. Penso, penso sobre tudo aquilo que penso e penso com todo o meu corpo. Morro de desejos até que não sejam mais desejos e dou lugar a inúmeros outros. Sou apaixonada, este é meu estado natural. Sou intensa, densa, pesada, mas estou aprendendo a voar como uma andorinha dourada. Tenho muita fé, fé que não necessita de imagens ou altares. Acredito em mim ao mesmo tempo em que desacredito: vou me buscando... Tenho tido muitas alegrias e ressacas. Tenho tido muito amor, muito amor. Tenho tido tudo aquilo que não posso agarrar, tudo aquilo que realmente importa. Tenho tido lindos olhos, mas não tão bonitos quanto aquilo que posso ver. Tenho tido um mundo que não físico e sonhos que não inalcançáveis. Sou um corpo feito de nuvens, ilhas, cores, luas, peixes, lares. Sou um mundo que não cabe neste, mas me encaixo perfeitamente. Tenho tido vida em vida e um lindo cachorro. Contudo e por tudo, há uma felicidade incrustada em minha essência e uma intensa energia...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

NAU




Quando anoitece, amanhece outro sol, noutro lugar do corpo. Dilúvio solar. E no distante horizonte, a inatingível mente dos amantes alcança águas repletas de sereias barbadas e proféticas ondas douradas. Caravelas em forma de estrelas improvisam luminosos céus no içar das bandeiras. O Universo Absoluto renasce em seda e nudez. Embarcar e deslizar.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

ÀS AS




Suportavelmente acordo. Dois cigarros por fumar, centenas de frases feitas e vulcânicos pensamentos. Insuportavelmente te escrevo enquanto te deito no travesseiro florido. Quanto amor no pensamento das suaves cinzas do não esperar. O peito já não é peito, é o desejo latente de morar na casa da árvore da felicidade. Te imagino, venero te imaginar! Coloco em minha alma bigodes de Leite Ninho ,e, assim, sou criança inventiva outra vez, suportando você em mim da mais magnifica forma criada pelo universo. E vou vivendo... Minha vida em nossos infinitos momentos, minha nômade vida em seus magnetizantes eixos. Te deixo, meu bem, como me deixo pelos cantos do quarto azul. Quero você e te preciso como preciso de meus grandes olhos. Te vejo, longe, tão perto, tão perto, tão perto...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

UM




Fogos de artifício no lugar das palavras, nada além de luz e estrondosos sussurros nos seios. Pernas contraídas entre a gôndola rosada e o suor borbulhante do esmalte que te ataca. Dialeto de rios desaguando na candura dos poros, despindo excessos na janela das línguas de outono. Respirar no distrair dos retalhos da última trajetória de galáxias em ebulição. Arrebatadoras cores silenciando amor enquanto me amo em você. Mais.